Todo médico, ao receber o diploma em seu juramento, repete uma frase de Hipócrates (considerado o pai da medicina), “Primum non nocere”. Esse termo traduzido do latim significa “primeiro, não prejudicar”. É o princípio central para evitar iatrogenias (mal causado em decorrência de tratamento para um quadro inicial por exemplo: anticoagulantes para tratamento de trombose maciça causa sangramento).
Sendo assim, a base deste princípio é que, inevitavelmente, todo tratamento possui riscos e consequências, que exames e terapias menos invasivas e mais econômicas devem ter preferência, e que nós como médicos estejamos atentos a todos os impactos que podemos causar ao paciente e evitando que o tratamento seja mais prejudicial que a própria doença.
Hoje o mundo vive uma doença e as medidas que tomamos importantes para desacelerar o contágio, vem causando uma iatrogenia grave na nossa sociedade. O isolamento social, comércio, indústrias e demais atividades sem funcionar interrompem o fluxo econômico, sufocando setores vitais para o abastecimento de produtos e serviços essenciais para manutenção de nossas vidas.
Gera uma cascata de desemprego e pobreza, diminuição da arrecadação do governo e consequente deterioração dos serviços públicos no médio prazo, inclusive para assistência social e serviços de saúde.
Já imaginaram quantas vidas poderemos perder todos os dias em um SUS ainda mais comprometido nos anos que seguirão? As consequências podem ser devastadoras durante anos, tornando a camada mais vulnerável da população ainda mais frágil e muito mais vidas poderão ser perdidas.
Saber administrar uma dose do remédio que minimize a doença e não cause um dano maior é uma das tarefas mais difíceis no tratamento de um problema grave. Requer muita cautela e pensamento de longo prazo para decidir o que se mostrará a melhor solução no final.
Se pensarmos no Brasil sendo um paciente passando por uma doença grave, o princípio defendido no juramento de Hipócrates não pode ser esquecido para que a dose do tratamento não cause mais danos que a doença. “Primum non nocere”.