O diagnóstico precoce é fundamental para uma boa evolução no tratamento dos diferentes tipos de câncer hematológico. E os especialistas alertam: Cansaço, fraqueza, dores inexplicadas, sono excessivo, desmaio, palpitações, infecções recorrentes ou de difícil tratamento, sangramentos espontâneos ou de difícil controle, nódulos ('ínguas'), perda de peso inexplicada, febre ou suores, entre outros sinais, devem ser avaliados por um médico.
No entanto, são poucos os fatores de risco esclarecidos. “E ainda, ter o fator de risco não significa que você terá o câncer. O surgimento do câncer vem por mutações genéticas, na maioria das vezes adquiridas, que nem sempre estão relacionadas a fatores de risco. Porém, sabe-se que exposição a produtos químicos, agrotóxicos, benzeno, formol, cigarro, radiação, quimioterapia prévia e algumas doenças hereditárias, podem ser considerados como fatores de risco”, afirma a hematologista Tatiana Dias Marconi Monteiro, da Oncoclínicas Grande Florianópolis.
A biópsia da medula óssea é o procedimento para o diagnóstico da maior parte das leucemias e mielodisplasia. No entanto, existe um tipo de leucemia que pode ser diagnosticada por um simples exame coletado do sangue. Já para os linfomas, o diagnóstico é firmado através da biópsia do órgão do sistema linfático acometido.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o número estimado de casos novos de leucemia para o Brasil, de 2023 a 2025, é de 11.540, o que corresponde a um risco estimado de 5,33 por 100 mil habitantes. A leucemia ocupa a décima posição entre os tipos de câncer mais frequentes, excluindo lesões de pele não melanomas.
Confira algumas informações sobre os diferentes tipos de câncer hematológico:
- Qual a diferença entre linfoma, leucemia e neoplasia mielodisplásica?
Linfoma, leucemia e neoplasia mielodisplásica são tipos diferentes de cânceres do sangue. Nosso sangue é produzido na medula óssea, que está localizada dentro dos ossos e funciona como uma "fábrica do sangue''. Algumas das células do sangue já saem da ''fábrica'' prontas para circular pelo corpo e exercer a sua função. Outras precisam passar pelos gânglios linfáticos para amadurecer e depois exercerem a sua função. Porém, podemos ter problemas em algumas das fases de produção destas células. Dependendo da fase e do tipo de célula que se torna defeituosa, teremos os diferentes tipos de câncer: Síndrome mielodisplásica, linfoma ou leucemia.
- Quais as principais semelhanças entre elas?
A ''célula mãe'' que origina todos os tipos de células do sangue (normal ou defeituosa) está localizada na medula óssea. Apesar de tudo ter origem na mesma célula, o que irá determinar qual o tipo de câncer é a fase em que a célula se torna defeituosa.
- O câncer hematológico é contagioso?
Não. As mutações genéticas que geram a alteração da célula são próprias de cada paciente, não sendo transmissíveis.
- É hereditário?
Esses tipos de cânceres surgem a partir de mutações genéticas nas células do sangue. Nós podemos herdar fatores de risco, hábitos e gatilhos ambientais que estejam relacionados ao aparecimento de alguma mutação genética. Mas a maioria dos tipos de câncer resultam de mutações genéticas adquiridas.
- A mielodisplasia pode virar leucemia?
É importante ressaltar que ''mielodisplasia'' é uma ''fábrica do sangue desorganizada'', impactando na produção normal do sangue. Quando temos essa ''desorganização'' decorrente de mutação oncogenética das células progenitoras do sangue, gerando células defeituosas e desorganizadas com produção ineficaz, temos a neoplasia mielodisplásica. Por muitos anos, ela foi conhecida como uma doença pré-maligna, ou seja, que em determinado momento, se tornaria um câncer. Hoje já se sabe, pelas características iniciais desta doença, que a neoplasia mielodisplásica já é um câncer. Pode se manifestar de diversas formas, algumas mais indolentes com evolução lenta e outras mais agressivas se "transformando" rapidamente em leucemia.
- Quais os equívocos mais comuns sobre essas doenças?
Um dos principais equívocos é procurar um culpado! A desordem na produção das células pode acontecer da noite para o dia. É comum as pessoas se culparem e associarem o câncer a estresse, alimentação, personalidade ou falta de espiritualidade. Não existe comprovação científica que ser ''bonzinho'' ou ''malvado" terá relação com o surgimento do câncer. Quebrando esse tabu, são raros e isolados os fatores de risco que podem contribuir para esses cânceres. Porém, vale ressaltar que a boa prática de exercício, alimentação balanceada, ausência de cigarro e herbicidas, equilíbrio emocional e religiosidade são fatores importantes para um estilo de vida saudável, independente do câncer.
Outro equívoco importante é a demora em procurar pelo especialista para realizar o diagnóstico e tratamento o mais breve possível. Muitas vezes isso dá por desinformação ou medo. Mas é importante ressaltar que, quanto antes se inicie o tratamento, independente do câncer hematológico, melhor será a evolução.
- Existem novas terapias para essas doenças?
Sim! Cada vez mais têm avançado as pesquisas em cada uma destas doenças com surgimento de medicações com menos efeitos colaterais, maior facilidade de administração e maior eficácia. Da mesma forma, há hoje novas tecnologias como o CAR-T Cell que propiciam índices de cura bastante otimistas.
- Os tratamentos são diferentes para cada tipo?
Sim. A partir do diagnóstico e do entendimento do tipo de câncer, estabelecemos em conjunto o planejamento para tratar o caso. Cada doença e cada paciente tem sua particularidade e deve ser visto e avaliado de forma individualizada. Existem diversas características que impactam no tratamento. Um câncer do sangue merece atendimento em equipe, seja agudo, crônico, indolente, agressivo, alto risco ou baixo risco. O importante é saber que o paciente não está sozinho e que esses cânceres podem ser tratados. Tirar as dúvidas com o seu médico hematologista é o primeiro passo para uma caminhada consciente.